quarta-feira, 17 de abril de 2013

Bliss Stage


O amor é a nossa arma
Agora mesmo, nesse exato momento, enquanto você lê essas palavras, a humanidade é destruída por uma força alienígena além dos limites do nosso entendimento.
Essa é a premisa de Bliss Stage, um premiado jogo indie criado por Ben Lehman. É um jogo sobre adolescentes em robôs gigantes assumindo responsabilidades e enfrentando alienígenas, mas acima de qualquer coisa é um jogo sobre relacionamentos.

O mundo foi invadido por seres extradimensionais, de uma dimensão que coexiste com nossos sonhos e pesadelos. Esses aliens prendaram os adultos em um sono profundo chamado Bliss. A sociedade ruiu enquanto crianças e adolescentes tentavam viver suas vidas. Então os alienígenas atacaram fisicamente, matando muita gente e basicamente dominando o planeta. Sete anos depois, nesse mundo pós-apocalíptico, uma arma foi encontrada. Usando uma tecnologia experimental, é possível entrar no mundo dos sonhos com um ANIMa, um tipo de robô gigante. O interessante está aqui - o robô é montado a partir de laços e emoções. A relação do piloto com a sua âncora (uma espécie de co-piloto, para simplificar) determina a força do chassis principal, o amor por um irmão pode formar um escudo, o respeito pelo comandante pode se transformar em uma espada.

O jogo em si é altamente narrativo, como outros jogos de Lehman, mas o sistema de relacionamentos é extremamente bem definido exatamente por esse motivo. É um sistema tão bom, inclusive, que é copiado em diversos jogos mais populares, como Mutantes & Malfeitores. Pouca coisa no jogo é definida, sendo que quase tudo é deixado em aberto para os jogadores - nem a aparência dos aliens é fixa. Os jogadores devem decidir o que os assusta mais e a partir daí criar os aliens.

Uma possível visão dos alienígenas
Uma das principais sugestões do livro é não responder as grandes questões do cenário. Bliss Stage é focado nos personagens e nas relações entre eles, não em entender o que são os alienígenas ou o que é o Bliss. Sim, é possível que no final da história essas perguntas sejam respondidas - mas sempre a um grave preso.

Quando um personagem morre ou atinge 108 pontos de Bliss (uma mecânica para determinar estresse emocional e maturidade), o jogador pode resolver uma das Esperanças do jogo. Isso pode ir desde reencontrar um irmão perdido a encontrar uma cura para o Bliss ou mesmo salvar a humanidade. Nesse sentido, Bliss Stage é muito parecido com Neon Genesis Evangelion - existem respostas, mas elas não são pré-definidas e consegui-las vai custar muito caro. Também existe similaridade no sentido que Bliss Stage é um jogo trágico; a comodidade mais valiosa é a vida dos protagonistas e ela vai ter que ser gasta mais cedo ou mais tarde.

Bliss Stage é um jogo que trata de relacionamentos entre adolescentes e como não podia deixar de ser, isso envolve sexo. O livro menciona que isso não deve ser um tabu na mesa, mas é fácil imaginar pessoas envergonhadas por isso. Alcançar o nível mais alto de Intimidade (uma mecânica importante para montar seu ANIMa) exige relações sexuais, mas isso não quer dizer que sua mesa vai se transformar na leitura de slashfic. "Fulano e Fulana tiraram as roupas e se entregaram um ao outro" é uma forma perfeitamente válida de lidar com isso.

Bliss Stage tem uma visual novel em processo de produção, com uma versão demo no site. O livro pode ser baixado gratuitamente, mas o autor aprecia doações de qualquer valor.

Resenha - Skullkickers


Um grandalhão e um anão, anacronismo, muita ação e muito humor são os ingredientes da politicamente incorreta Skullkickers, quadrinho de Jim Zub publicado pela Image Comics, vencedor de um prêmio Eisner. Zub denonima o estilo da história como sword and sassery ('espada e insolência', numa tradução livre) numa corruptela do termo sword and sorcery que define clássicos como Conan.

Zub deixa claro que sua maior influência é Dungeons & Dragons. Jogando desde criança, ele era o tipo de jogador que faz as coisas mais estranhas nas situações mais desesperadoras, às vezes obtendo sucesso mas sempre obtendo gargalhadas. Se durante suas sessões de D&D Zub encarava como um dever fazer seu Dungeon Master cair na gargalhada, agora ele revive esse dever fazendo seus leitores gargalharem lendo Skullkickers.


Zub já deu dicas importantes sobre a realidade do mercado de publicação independente nos EUA. Cortando em miúdos, Skullkickers não está deixando ele rico, mas é extremamente divertido e uma coisa que ele sempre quis fazer. Esse entendimento tão profundo de sua mídia escolhida se reflete na obra em si; o primeiro arco de histórias foi feito para ser auto-contido, apesar de ter ganchos para uma série mais longa. Entre cada arco de história, uma edição com histórias curtas (e hilárias!) é incluída dando espaço para artistas convidados e uma merecida folga para a equipe titular. Até mesmo um concurso foi realizado para que um leitor tivesse uma história própria em uma coletânea dessas histórias curtas (na edição 18).

Apesar de todas essas características positivas, a maior força de Skullkickers está na simplicidade e carisma. Nossos protagonistas começam a história sem nem mesmo ter nomes, mas é muito fácil gostar deles da mesma forma. A violência é exagerada, mas o humor que sempre a acompanha diminui o impacto. Em um cenário de quadrinhos cada vez mais interligados e com continuidade cada vez mais confusa, Skullkickers é uma opção despreocudada e extremamente divertida.

Skullkickers segue dois mercenários com poucos escrúpulos e menos cérebro enquanto eles passam por situações corriqueiras de fantasia medieval de forma nem um pouco corriqueira. Um deles é um humano grandalhão com uma pistola de mão e o outro é um anão com dois machados.

Não espere um grande épico que desvende a natureza humana em Skullkickers. Espere muita ação, muita aventura, usos criativos para pessoas imortais, anões confundindo veneno com drogas de expansão de consciência, muita ironia e muitas referências a D&D (em uma das edições, Zub até incluiu a ficha dos dois protagonistas como monstros para D&D 4a edição!).


Para quem se interessou, Skullkickers está disponível via Diamond e em forma digital no ComiXology. Inclusive, na ComiXology as edições 0 e 1 estão disponíveis completamente grátis.